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30 de junho de 2009

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Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura. Arrependa-se, volte atrás, peça perdão! Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças,mas não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-a. Se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o!"

Fernando Pessoa

Curso de Escutatória


Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de
escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai
se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as
árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

Daí a dificuldade:
A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite
melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que
é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de
nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos
estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes,
ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do
piano, ficam assentados em silêncio...
Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente,
alguém fala.
Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou
os seus pensamentos...
Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você
terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade
eu já pensei há muito tempo.
É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que
uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo
aquilo que você falou.
E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de
pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas
que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência...
E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No
lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos
todos olhos e ouvidos.
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos
a melodia que não havia...
Que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num
contraponto.

28 de junho de 2009

QUASE


Luís Fernando Veríssimo

Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez
é a desilusão de um "quase".
É o quase que me incomoda, que me entristece, que
me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu está vivo,
quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo,
nas idéias que nunca sairão do papel
por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna;
ou melhor, não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor,
está estampada na distância e frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir
entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo,
o mar não teria ondas, os dias seriam nublados
e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige, nem acalma,
apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas,
nem que todas as estrelas estejam ao alcance,
para as coisas que não podem ser mudadas
resta-nos somente paciência,
porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance;
pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio
ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando,
fazendo que planejando, vivendo que esperando
porque, embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu!!

15 de junho de 2009

P R O C E S S A N D O . . .

A vida é cíclica: assim como há um tempo de se expor e arriscar tudo em nome deste sentimento, também chega o tempo de se introspectar e recolher seu coração, ainda que o mesmo sentimento continue pulsando ou que você esteja na mesma relação.

O fato é que, em determinados momentos, a alma precisa de repouso absoluto! Talvez por alguns dias, meses ou até anos. Cada um é que sabe do tamanho do desgaste vivido e de quanto necessita se refazer e se reconstituir. Somente cada um pode avaliar o quanto foi se distanciando de si mesmo em nome do outro, o quanto foi perdendo a direção de sua própria vida em busca de respostas que não são as suas...

Além disso, estar em repouso é um ótimo estado para rever seus desejos e se questionar sobre o que realmente está fazendo de sua vida. Porque algumas vezes a gente simplesmente perde a referência e fica tão confusa que já não consegue perceber o que é que está buscando, para onde está indo, onde quer chegar.

Em princípio, “repouso absoluto” significa uma imobilidade física, um estado inerte do corpo, mas quando proponho repouso absoluto ao coração, falo de uma capacidade que todos nós temos de introverter, fechar os olhos para a recorrente confusão externa e abri-los para a alma, a fim de enxergar o que está obscurecido dentro da gente. Para tanto, precisamos de silêncio interior; precisamos, acima de tudo, de paz!

Porque o que nos conduz a esta necessidade é, geralmente, um encontro, uma relação ou um sentimento que nos rouba a tranqüilidade e consome nossa energia de modo tão nefasto que o que sobra é angústia, aflição e cansaço. E então chega o tempo de nos acolher e, afetuosamente, recolher os pedaços que fomos deixando ao longo do caminho.

Claro que isso não significa negar a vida e se abster do riso e da alegria que podem ser experimentados a qualquer tempo. Há muitas maneiras de estar em repouso, ainda que seja rodeado de amigos e pessoas queridas. Ninguém precisa se trancar no quarto ou viajar para uma montanha do Nepal para oferecer ao próprio coração o mínimo de paz necessária para se recompor.

Mas, sobretudo, é preciso estar só por alguns instantes. É preciso se permitir o descanso, a entrega a si mesmo, até que se consiga perceber quais são os sentimentos que te fazem bem e quais os que te fazem mal. Mais do que isso, descobrir o quanto vale a pena continuar investindo num sentimento quando não há troca!

Afinal de contas, um coração precisa de reciprocidade para completar a dinâmica que nos torna inteiro. Amar e ser amado.

-Rosana Braga-